Posted by Diana Andringa
Chegado ao poder em 5 de Julho de 1932, Salazar cuidou de preparar a base
constitucional e legislativa do Estado Novo. A Constituição de 1933 incluía, no
artigo 39º, a proibição da greve e do lock-out – já constante do
Decreto-Lei nº 13.138 de 15 de Fevereiro de 1927 e reafirmada no artigo 9º do
Estatuto do Trabalho Nacional (Decreto-Lei nº 23.048 de 23 de Setembro de
1933). O Decreto-Lei nº 23.050 de 23 de Setembro de 33 vai por sua vez
instituir o princípio do Sindicato único.
E é contra este edifício legislativo, contra a “fascização” dos sindicatos
e a ilegalização das organizações existentes, que se prepara, para o dia 18 de
Janeiro do ano seguinte (1934), uma “greve geral revolucionária”.
Na véspera, no entanto, a PVDE prende alguns dos principais dirigentes
sindicalistas e outros activistas ligados ao movimento. Ainda assim, em Lisboa,
na noite de 17, explode uma bomba no Poço do Bispo e e o caminho-de-ferro é
cortado em Xabregas, enquanto que, em Coimbra, explodem duas bombas na central
eléctrica. Há ainda movimentações em diversos outros pontos do país, como
Leiria, Barreiro, Almada, Sines e Silves, sendo a mais forte na Marinha Grande,
onde grupos de operários ocupam o posto da GNR e os edifícios da Câmara
Municipal e dos CTT.
A repressão não se faz esperar. Diversos participantes do 18 de Janeiros
estão entre os prisioneiros que inaugurarão, dois anos depois, a colónia penal
do Tarrafal, onde vêm a morrer Pedro Matos Filipe, Augusto Costa, Arnaldo
Simões Januário, Casimiro Ferreira, Ernesto José Ribeiro, Joaquim Montes, Mário
Castelhano, Manuel Augusto da Costa e António Guerra.
Aproveitamos para divulgar hoje algumas
páginas do Diário de
Lisboa, que relatam os acontecimentos e
as reacções oficiais à tentativa insurreccional ocorrida há 75 anos.
DL, 18/1/1934 – (1), (2) e (3)
DL, 18/1/1934 – (1), (2) e (3)
(Documentos da Fundação Mário Soares)
A Nota Oficiosa emitida pelo Ministério do Interior é bem reveladora da
gravidade dos factos:
«Pelos relatos dos jornais viu o país os sucessos das últimas vinte e quatro
horas. Por eles poderá facilmente supor os que haveria, se o governo,
conhecendo bem os preparativos da acção, não tivesse tomado as medidas
requeridas pelas circunstâncias. Cessação do trabalho nas fábricas, paralisação
de serviços de interesse colectivo e vitais para a população, atentados
pessoais e manifestações de terror estavam previstos por parte de elementos que
supunham poder arrastar para a projectada revolução social as massas
trabalhadoras.
A apreensão de armamento, a oportuna prisão dos principais dirigentes e
instigadores, a apertada vigilância exercida por todos os elementos e forças de
segurança pública, do Exército e da Armada, a consciência cívica do País e o
magnífico espírito de ordem dos trabalhadores em geral fizeram fracassar por toda
a parte os planos extremistas em condições de não ser já possível a sua
repetição. Não foi perturbada a tranquilidade pública nem a vida normal da
população. Seguem-se agora naturalmente as sanções.
Disponível em https://caminhosdamemoria.wordpress.com/2010/01/18/o-18-de-janeiro-de-1934/(consultado dia 26.11.2019)
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