1º de Maio de 1886. Manifestação operária em Chicago termina com mortes e detenções. Três anos depois nascia o Dia do Trabalhador.
No século
XIX, a pujança da “Revolução Industrial” conduziu à sujeição dos trabalhadores
a condições desumanas de laboração. A necessidade de se produzir o máximo ao
mais baixo custo não respeitava idades nem sexos. As organizações sindicais
eram incipientes e perseguidas pelas autoridades policiais.
Em 1864 é
criada a Primeira Associação Internacional dos Trabalhadores, em Londres. A
iniciativa surge num contexto de união entre líderes sindicais e ativistas
socialistas com vista a dar voz às lutas dos trabalhadores e às nações
oprimidas. A esta associação se chamou mais tarde a Primeira Internacional
Socialista que duraria sete anos. As divisões ideológicas entre as várias facões
(sindicalistas, anarquistas, socialistas, republicanos e democratas radicais,
entre outras) puseram fim à agremiação, mas deixaram mais explícitas as
reivindicações e propostas pelas quais os trabalhadores se deveriam debater. A
redução da jornada de trabalho para as 10 horas diárias era uma delas.
Os objetivos saídos desta Internacional tiveram eco no
IV Congresso da American Federation of Labor, em Novembro de 1884. As
negociações, sucessivamente falhadas com as entidades patronais, fizeram das
cidades operárias um barril de pólvora pronto a explodir. Até que, em 1886, no
dia 1 de Maio, teve início uma greve geral com a adesão de mais de 1 milhão de
trabalhadores em todo o território norte-americano. A reação a esta paralisação
foi violenta.
Na cidade
de Chicago a repressão policial foi especialmente dura. Ao quarto dia de
manifestações (dia 4 de Maio) explodiu uma bomba entre a multidão matando
dezenas de trabalhadores e alguns polícias. Deste incidente resultou a prisão
de oito líderes do movimento. Quatro foram condenados à morte por enforcamento
e os restantes a prisão perpétua. Em 1890, o Congresso americano vota a lei que
estabelece a jornada de oito horas de trabalho e três anos mais tarde, depois
da reabertura do processo que levou à condenação dos oito operários, conclui-se
que a bomba que explodiu em Chicago tinha sido colocada pela própria polícia.
O luto fortaleceu a
luta
Três anos
depois da condenação dos que ficaram conhecidos como os “Mártires de Chicago”
as repercussões sentiram-se na Europa. Assim, em 1889, a Segunda Internacional
Socialista decidiu, em Paris, proclamar o 1º de Maio como o Dia do Trabalhador
em memória dos que morreram em Chicago.
Curiosos são os títulos de alguns jornais americanos a
propósito das manifestações dos trabalhadores. O “Chicago Tribune” dizia na
altura: “A prisão e os trabalhos forçados são a única solução adequada para a
questão social”. O New York Tribune seguia a mesma linha: “Estes brutos só
compreendem a força, uma força que possam recordar por várias gerações”. De
sublinhar que nos EUA o chamado Labor Day festeja-se a 3 de Setembro e
não a 1 de Maio.
Em Portugal
A decisão da Comuna de Paris, de decretar o 1º de Maio
como o Dia Internacional do Trabalhador teve repercussões no nosso país.
Diz-nos José Mattoso (in História de Portugal, vol. 5), que houve um
reforço da luta do movimento operário português em finais do séc. XIX sendo
"em torno da associação e da greve que gravita o próprio movimento
operário". Entre 1852 e 1910 realizaram-se 559 greves no nosso país. A
subida dos salários, a diminuição da jornada de trabalho e a melhoria das
condições de laboração eram as principais exigências dos operários.
Mas,
segundo o mesmo autor, o movimento operário alcançava grande força quando
"aquelas (associações) a que hoje chamaríamos propriamente «sindicatos» se
juntavam com as recreativas, as de socorros mútuos e os centros
políticos". Tal ficou demonstrado no 1º de Maio de 1900 que juntou em
Lisboa cerca de 40 mil pessoas, numa altura em que "as classes médias ainda
viam as organizações de trabalhadores com alguma simpatia".
Durante a
I República não se deixou de festejar o Dia do Trabalhador, mas sublinhe-se que
um dos primeiros diplomas aprovados, com a instituição do novo regime, dizia
respeito ao estabelecimento dos feriados nacionais e destes não constava o dia
do trabalhador. Em 1933 é decretada a "unicidade sindical" e o
"controle governamental dos sindicatos" esmorecendo um movimento
operário que só ganharia novo ânimo na década de 40. Durante o Estado Novo as
manifestações no Dia do Trabalho (e não do Trabalhador) eram organizadas e
controladas pelo Estado.
O primeiro
1º de Maio celebrado em Portugal depois do 25 de Abril foi a maior manifestação
alguma vez organizada no país. Só na cidade de Lisboa juntaram-se mais de meio
milhão de pessoas. Para muitos, foi a forma dos portugueses demonstrarem a sua
adesão ao 25 de Abril, que uma semana antes restituía ao país a democracia.
Por Liliana Filipa Silva - jpn@icicom.up.pt
Publicado: 30.04.2004
Publicado: 30.04.2004
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