O Dia de Memória do Holocausto faz parte, desde 2009, do nosso calendário parlamentar, em sintonia com a iniciativa das Nações Unidas, que consagrou, em 2005, o dia 27 de janeiro como Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.
Concebemos
esta comemoração como um momento solene de reflexão sobre as causas e as
consequências do Holocausto, lembrando e homenageando a memória das vítimas do
nazismo e dos seus colaboradores.
Entendemos
a celebração desta data como de afirmação da dignidade da pessoa humana e dos
demais direitos fundamentais consagrados na Constituição, na Declaração
Universal dos Direitos Humanos e na Convenção Europeia dos Direitos Humanos.
Minhas
Senhoras e meus Senhores,
Ao
assinalarmos, este ano, o 75.º aniversário da libertação do campo de extermínio
de Auschwitz-Birkenau, é importante reconhecer que o antissemitismo, o racismo
e a xenofobia não começaram com nazismo e não terminaram com o fim da II Guerra
Mundial.
Não
podemos ignorar que ao longo dos séculos, e por toda a parte do globo, sempre
se verificaram manifestações de ódio e atos de violência contra judeus.
O
Holocausto é exemplo maior da barbárie nazi, com seis milhões de judeus mortos
e um número indeterminado de outros seres humanos perseguidos, encarcerados,
deportados ou mortos pelas suas crenças, opções políticas, orientação sexual,
condições físicas ou origens,
Mas
não surgiu do vazio.
Foi
um programa estabelecido e executado de forma planeada, por etapas, sustentado
numa cultura de ódio e de preconceito, promovido e alimentado por uma forte e
eficaz campanha de propaganda e desinformação, que soube explorar a crise
financeira e social do pós I Guerra Mundial.
Foi
um propósito que contou com a cumplicidade, a colaboração – ativa ou passiva –
e a indiferença de parte significativa da população de vários Estados.
Minhas
Senhoras e meus Senhores,
Recordar
o Holocausto, e as suas consequências, é um imperativo moral. Para o prevenir é
indispensável conhecer as suas causas, o contexto em que surgiu, a conjuntura
que o tornou possível.
Não
por acaso, a Resolução das Nações Unidas que estabeleceu o Dia Internacional
insta os Estados Membros a desenvolverem programas educacionais dirigidos às
novas gerações visando esse objetivo.
Portugal
reforçou o seu compromisso nesta área ao tornar-se, em 2019, o 34.º
Estado-Membro da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto,
organização que tem o intuito de dinamizar a cooperação internacional em
matéria de Educação, Memória e Investigação do Holocausto.
O
currículo escolar português aborda já esta temática em diversas disciplinas e
em múltiplos anos, nomeadamente no domínio dos Direitos Humanos, de acordo com
a Estratégia Nacional da Educação para a Cidadania.
Algumas
das ações desenvolvidas contam mesmo com a participação de vários parceiros
institucionais, nomeadamente o Mémorial de la Shoah, a Memoshoá, a
Associação de Professores de História, entre outros.
Se a
História é imprescindível para desvendar este período negro da Humanidade e nos
avisar para as suas consequências, a Educação para a Cidadania, ao fomentar o
respeito pelo Outro numa sociedade inclusiva, promotora da igualdade, da
democracia e da justiça social, é essencial para frustrar as manifestações de
xenofobia e de racismo, e a ocorrência de atos de violência com estas
relacionados.
Minhas
Senhoras e meus Senhores,
Na
evocação do Dia de Memória do Holocausto é também justo recordar os que não
assistiram passivamente à propagação do mal, tantas vezes com riscos para a
própria vida, a sua liberdade ou sustento.
Aristides
de Sousa Mendes foi um desses Homens.
Contrariando
as instruções do Governo Português – a célebre circular n.º 14, de novembro de
1939 –, Aristides de Sousa Mendes emitiu vistos a todos os que o solicitaram,
sem distinções e restrições.
Graças
a este gesto, estima-se que centenas de vidas foram salvas.
Por
este ato de coragem, em obediência aos seus princípios e consciência, Aristides
de Sousa Mendes foi punido.
É,
pois, com agrado que a Assembleia da República, Casa da Democracia, se associa,
nesta cerimónia evocativa do Dia Internacional da Memória do Holocausto, à
homenagem devida a este Homem, que honra todos os Portugueses, através da
Exposição “Além do Dever” e da apresentação do documentário sobre a sua vida.
Minhas
Senhoras e meus Senhores,
Ao
terminar, gostaria de recordar, pelo seu significado, as palavras de Thomas
Buergenthal, um sobrevivente do Holocausto e antigo Juiz do Tribunal
Internacional de Justiça, retiradas do discurso que proferiu nas Nações Unidas,
a 31 de janeiro de 2018, na celebração desta data:
«O
Holocausto não foi apenas uma tragédia judaica; foi uma tragédia de significado
universal. Toda a humanidade foi sua vítima. A menos que esta verdade seja
reconhecida e aceite, o Holocausto será tratado apenas como um problema
judaico, diminuindo assim o carácter universal e o significado da tragédia
humana que foi».
Não
podemos deixar que isso aconteça.
A
todos agradeço a presença e a atenção.
Muito
obrigado.
Eduardo
Ferro Rodrigues
Presidente
da Assembleia da República
13.02.2020 | Cerimónia de Evocação do Dia de Memória do Holocausto |
Salão
Nobre da Assembleia da República, Palácio de São Bento
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