terça-feira, 12 de novembro de 2019

Museu do Aljube - Um espaço para não deixar esquecer a luta contra a ditadura


Museu do Aljube - Um espaço para não deixar esquecer a luta contra a ditadura


O Museu do Aljube – Resistência e Liberdade é um museu municipal dedicado à memória do combate à ditadura que vigorou em Portugal durante quase meio século e de homenagem à liberdade e à democracia.


O edifício do Aljube, palavra de origem árabe que significa poço sem água, cisterna, masmorra ou prisão, antes de ser Museu foi uma prisão. Primeiro cárcere eclesiástico, depois prisão de mulheres acusadas de delitos comuns até ao final da década de 1920 e prisão política durante o Estado Novo até ao seu encerramento em 1965.


No seu Centro de Documentação é possível consultar documentos não só sobre os meios de opressão e repressão vigentes neste período, mas também sobre os movimentos de resistência, de propaganda clandestina e das várias formas de expressão antifascista. Enquanto que no Museu é possível visitar a Exposição Permanente, mas também as várias Exposições Temporárias que são realizadas, para além de conversas, colóquios e debates.


Na Exposição Permanente, é dada a conhecer aos visitantes a história do edifício do Aljube, a ascensão e queda dos fascismos, os pilares do regime de Salazar, a censura e também a importância da imprensa clandestina, os modos de organização da resistência antifascista e os processos de identificação dos presos e os meios de tortura e interrogatórios.

Recordam-se também as celas disciplinares, conhecidas como curros ou gavetas, celas de isolamento, construídas no início dos anos 40, que não possibilitavam ao preso mexer-se e que visavam destruir a resistência dos prisioneiros, antes de sessões de interrogatório e tortura. Com o encerramento do Aljube em 1965, os curros foram destruídos, numa manobra de ocultação.

Entre 1969 e 1970, o Aljube teve obras, sob jurisdição do Ministério da Justiça. Foram remodelados os pisos, as celas e construídos novos parlatório e refeitório, de forma a melhorar e permitir a maior separação dos presos do Limoeiro, até que fosse construída uma nova cadeia.


Depois do 25 de Abril, o edifício do Aljube foi utilizado por diversos serviços do Ministério da Justiça, até à sua entrega à Câmara Municipal de Lisboa, no período em que António Costa era Presidente da Câmara e que Alberto Costa (ele também ex-preso político no Aljube) era o titular da pasta da Justiça, com o objectivo de vir a ser usado para albergar uma exposição sobre a repressão durante a ditadura.


Integrada nas comemorações do centenário da República, entre 25 de Abril de 2010 e 25 de Abril de 2011, realizou-se no espaço do Aljube a exposição “A Voz das Vítimas, visitada por mais de 14 mil pessoas e organizada numa parceria do movimento Não Apaguem a Memória! com o Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e do Arquivo e Biblioteca da Fundação Mário Soares.


A 25 de Abril de 2015, o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, inaugura o Museu do Aljube — Resistência e Liberdade.


Desconhece-se o número exacto de presos políticos que passaram pelo Aljube durante a ditadura, mas ali foram encarcerados muitas personalidades da política e cultura portuguesas, entre os quais Álvaro Cunhal, Carlos Brito (que é um dos prisioneiros que fez parte de uma das fugas bem sucedidas da prisão), Fernando Rosas, José Mário Branco, José Medeiros Ferreira, Mário Soares, Miguel Torga, Nuno Teotónio Pereira, Urbano Tavares Rodrigues, entre muitos outros. Muitos deles em obras que publicaram recordaram a sua passagem pelo Aljube.


Mário Soares, em “Portugal Amordaçado”, descreve assim a prisão: “Passadas algumas horas fui transferido, evidentemente, para a PIDE e daí, depois de um interrogatório simbólico, para o Aljube, onde pela primeira vez conheci os célebres curros de má memória. Os curros são uma espécie de minúsculas celas, que deitam para um corredor, quase sem luz, de cinco palmos de largura por quinze de comprimento, tendo por única mobília uma tábua incrustada na parede, que se levanta e baixa, o bailique, em cima da qual existe um velho enxergão e duas mantas, onde se dorme, sem lençóis”.






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