Estudar o nazismo não é a mesma coisa que estudar outro período histórico qualquer.
Sem compreendermos este fenómeno nunca poderemos
compreender o que foi o século XX, mais, temos de saber que foi no mesmo país
em que nasceu Bach que se imaginou Auschwitz, e que, enquanto matavam judeus
nos campos, ouviam as suas composições para piano fazendo-o em nome da cultura
alemã.
Auschwitz foi construído em nome da civilização e
contra uma suposta barbárie.
Os nazis estavam convencidos de que eles é que eram os
bons, os “decentes”. Himmler sempre utilizou essa linguagem pois pedia aos seus
homens para aguentarem esse trabalho “tão duro” que era o do assassínio em
massa e, ao mesmo tempo, não se deixarem contaminar e manterem a sua
“decência”.
Auschwitz não foi um acidente, não foi apenas um
excesso do nazismo.
Auschwitz interroga-nos sobre o carácter da cultura e
da modernidade.
Auschwitz obriga-nos a pensar que temos de estar
sempre conscientes de que a nossa capacidade para mudar o mundo e o poderio que
nos dão as tecnologias têm de ser sempre balizados por referências morais muito
fortes que evitem que a técnica sem moral conduza ao utilitarismo.
Em Auschwitz escondem-se, condensam-se, todas as
contradições das nossas sociedades modernas. Até a ideia de progresso, pois, um
médico como Mengele, não se via como um criminoso mas “como alguém que
procurava fazer avançar a ciência, que queria perceber as raízes biológicas dos
comportamentos humanos e o fazia pelo método experimental.”
Ferran Gallego, historiador e autor do livro
“Os Homens do Fuhrer”: A Elite do
Nacional-Socialismo 1919-1945‘ (Esfera dos Livros), em entrevista ao Ípsilon,
edição de 12 de Fevereiro de 2010.
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