MOVIMENTO OPERÁRIO
Há 34 anos cerca de 4.000 operários
navais da Lisnave, Setenave, Sociedade Portuguesa de Reparações de Navios e
Parry&Son bloquearam a entrada sul da ponte 25 de Abril para exigirem o
pagamento de salários em atraso e alertar contra a fome que grassava no
distrito de Setúbal.
Contrariamente a outros momentos de
tensão vividos na ponte - como foi o caso da grande manifestação a 12 de
Setembro de 1974 -, a resposta da classe dominante foi a repressão policial.
Cerca de 30 operários feridos. Assistia-se, assim, à consolidação da nova
relação de forças, onde o poder operário, conquistado com o 25 de Abril, se começava
a ressentir profundamente.
A então deputada do PCP, Odete
Santos, relatou assim o acontecimento: "Eram 11 horas da manhã e milhares
de trabalhadores inundaram a auto-estrada, perto da Ponte 25 de Abril.
Bandeiras negras enlutavam o sol. Contava-me entre os que, serenamente,
aguardavam que a manifestação chegasse ao fim. Do respeito pelo protesto dos
trabalhadores falava o silêncio das centenas e centenas de veículos
imobilizados, só cortado pelo som das ambulâncias que passavam com a ajuda dos
manifestantes. Os rostos falavam de situações trágicas: de mobílias vendidas ao
desbarato para garantir o pão de cada dia; de crianças a definhar; de mais um
livro que não se pode comprar para a escola; de um brinquedo que se não pode
ter de um sorriso que se perde na angústia dos olhos. Era o protesto de quem
sabe que Abril, longe e perto, está em mãos erradas".
[As fotos
foram retiradas do Arquivo Fotográfico da Lusa ]
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