Chegou também a
Portugal. Em Julho completam-se 100 anos sobre o afundamento do caça-minas
Roberto Ivens, que tirou a vida a 15 marinheiros portugueses.
Por Paulo Costa - Instituto de História Contemporânea da
Universidade Nova de Lisboa (*)
Quando, em Março de 1916, Portugal
entrou na Grande Guerra ao lado dos Aliados, as águas territoriais portuguesas
no Atlântico Norte - tanto no Continente como na Madeira e Açores, e até Cabo
Verde -, passaram a ser terreno de caça para os submarinos imperiais alemães.
Navegando muitas vezes à superfície e à
vista da costa, os submarinos alemães atacaram a frota mercante portuguesa, do Minho ao Algarve, causando a morte a marinheiros
e pescadores.
Mas, para além do perigo para a
navegação que constituiu a presença destes submersíveis, surgiu uma
nova e terrível ameaça: as minas submarinas.
Arma invisível e traiçoeira, as minas submarinas eram colocadas em locais
onde se previa que os navios tivessem obrigatoriamente que passar, como o Cabo
Raso, em Cascais, ou a Ponta de Sagres, no Algarve, ou ainda a entrada do porto
de Lisboa.
Flutuando despercebidas sob a superfície
das águas, explodiam por contacto com o casco de qualquer navio que
tivesse a infelicidade de colidir com elas.
Para combater esta nova ameaça, a
Marinha Portuguesa criou um serviço de deteção e remoção de minas submarinas,
a que na gíria naval se chama «rocega».
Os navios disponíveis para este serviço
foram vários arrastões de pesca que, devidamente artilhados e equipados para
estas missões, passaram a ser denominados «caça-minas».
Requisitados a armadores civis, eram
manobrados por uma tripulação mista, composta por marinheiros da Armada e
marinheiros civis mobilizados como Auxiliares de Defesa Marítima.
Estes caça-minas operavam aos pares e tiveram
como missão rocegar canais de navegação nas entradas dos portos de Lisboa e
Leixões, de modo a proporcionar uma rota segura aos navios que aí faziam
escala.
No dia 26 de Julho de 1917, durante uma
missão de rocega na foz do rio Tejo em parelha com o rebocador Bérrio, o
caça-minas 'Roberto Ivens' colidiu com uma mina que não detetou, um pouco ao
sul do farol do Bugío. A explosão deu-se sensivelmente a meia-nau,
partindo imediatamente o navio ao meio.
De bordo do rebocador 'Bérrio' julgaram
tratar-se de um torpedo, pelo que iniciaram manobras de evasão e disparos sobre
o que julgaram ser a esteira de um submarino. Só quando o fumo da explosão se
dissipou e se aperceberam que tinha sido uma mina, manobraram para recolher os
únicos 7 sobreviventes. Dos seus restantes 15 camaradas,
nem sinal, volatilizados pela explosão.
O caça-minas ‘Roberto Ivens’ perdeu-se
às portas de Lisboa. Foi um dos dois únicos navios que a Armada
Portuguesa perdeu em ações de combate durante a Primeira Guerra Mundial,
demonstrando que a Grande Guerra não teve lugar só nas trincheiras da Flandres
ou nos solos de África, mas também chegou a Portugal.
O destroço do ‘Roberto Ivens’ repousa
hoje ao sul do Bugío, a 36 metros de profundidade.
(*) Este
artigo foi escrito no âmbito da parceria
entre o Laboratório de História do Instituto de História Contemporânea (IHC),
da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa - e
o Jornalíssimo, com coordenação de Ana Paula Pires, Luísa Metelo
Seixas e Ricardo Castro.
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