Revolução Bolchevique ou Revolução Russa - Outubro de 1917
A corrente teórica do Socialismo Científico, ou do Marxismo,
desenvolvida pelos filósofos e pensadores Karl Marx e F. Engels no século XIX acabaram
por influenciar o processo revolucionário russo no início do século XX. Na
segunda metade do século XIX, Marx e Engels tornaram-se as expressões
filosóficas de combate ao modo de
produção capitalista. Ambos compreendiam o capitalismo como um sistema
injusto que gera pobreza, miséria, desigualdades e injustiças sociais,
políticas e econômicas em geral devido a forte exploração do capital sobre a força de trabalho do operariado (ou
proletariado). Marx sustentava que o capital era o responsável maior pela situação de exploração e
miséria vivida pelos operários de fábricas. Segundo ele, com a apropriação dos meios de produção, a
burguesia se tornou uma classe privilegiada (econômica, política e
socialmente), dona do capital gerada pela produção fabril, que compra a força de trabalho do operário, o
único bem que lhe restou, sob forma de salário. Mediante este quadro,
Marx afirmava que o sistema capitalista deveria ser superado e que a única
classe social que tinha a força para esta tarefa era o proletariado. O caminho, ou a maneira de realizar esta superação,
segundo Marx, era a revolução.
Em seus inúmeros livros e
textos que publicou, Marx (sempre em companhia de Engels que co-assinava as
obras) deixou claro que a classe operária era a única capaz de derrubar com a ordem burguesa, logo,
com o capitalismo. Com isso,
Marx não só criou uma doutrina filosófica e política em oposição ao
capitalismo, como também conquistou diversos seguidores, que eram, em geral,
intelectuais que estudavam seus textos e livros, compreendendo-os,
interpretando-os e ensinando a doutrina marxista a hordas de operários por meio
de sindicatos, partidos políticos de esquerda (como a Social-Democracia) e
demais organizações operárias. Desde as últimas décadas do século XIX que o marxismo ganhava adesões e força
enquanto uma doutrina de pensamento
coerente e capaz de provocar a superação do modo de produção capitalista.
Não à toa que geralmente burgueses e políticos de direita, até hoje, odeiam K. Marx e seus escritos, assim
como, seus seguidores.
Breve
História do Socialismo Europeu no século XIX e início do século XX
Karl Marx |
Considerando a segunda metade
do século XIX, quando o movimento
operário já era mais forte e autônomo – muitas organizações operárias de
esquerda já eram realidades e travavam lutas
contra a exploração capitalista. Organizações tais como centrais sindicais, Partidos Sociais-Democratas, associações mútuas de trabalhadores, as organizações anarco-sindicalistas,
entre outras – foi fundado em 1864 a AIT
– Associação Internacional dos
Trabalhadores que contou com as presenças de Marx e do russo Mikail
Bakunin (fundador do Anarquismo)
entre outros intelectuais de esquerda – em Londres onde se realizou o encontro
dos principais líderes do movimento operário. Nesse evento os líderes das
classes operárias traçaram estratégias de como doutrinar o proletariado para
que pudesse, de modo concreto, fazer a revolução superando a ordem burguesa,
logo, a sociedade capitalista de produção.
Em 1871, surgiu na França a Comuna de Paris. Depois da derrota
francesa perante as forças militares prussianas na Guerra Franco-Prussiana em
que a França perdeu os territórios de Alsácia e Lorena, Napoleão-III (sobrinho
de Napoleão Bonaparte-I), então Imperador do país, governava em favor dos
interesses econômicos, políticos e sociais burgueses deixando de lado a
situação de miséria da maioria da população e seus interesses prioritários.
Durante a Guerra Franco-Prussiana, as províncias francesas elegeram para a
Assembleia Nacional uma maioria de deputados monarquistas francamente favorável
à capitulação ante a Prússia. A população de Paris, no entanto, opunha-se a
essa política. Thiers, elevado à chefia do Gabinete conservador, tentou esmagar
os insurretos. Estes, porém, com o apoio da Guarda Nacional, derrotaram as
forças legalistas, obrigando os membros do governo a abandonar precipitadamente
a capital francesa, onde o comitê central da Guarda Nacional passou a exercer
sua autoridade. A Comuna de Paris
- considerada a primeira República
Proletária da história - adotou uma política de caráter socialista, baseada nos princípios da Primeira Internacional. Porém, o
governo socialista dos chamados comunardos
ou comunards teve uma efêmera (curta) duração e acabou ficando conhecida
como o Grande Ensaio já que
provara que uma revolução proletária era possível de ocorrer, desde que o
proletariado estivesse pronto para isso e que um governo socialista também era
possível de ser constituído.
Já no início do século XX, nas
duas primeiras décadas (1900-1910 / 1910-1920) a corrente filosófica do marxismo contava com inúmeros adeptos espalhados
pela Europa , pela América e em alguns outros cantos como na China, por exemplo.
Os textos e livros deixados por Marx, como herança, serviam para estimular
estudos, interpretações, reinterpretações e debates, assim como, servia para a militância dos grupos de esquerda em
suas lutas contra o sistema capitalista tendo como palavra de ordem: a
Revolução Operária – esta deveria ocorrer a qualquer custo nos diversos
países capitalistas. Alguns líderes, ou intelectuais, marxistas mais atuantes
no início do século XX eram: Lênin; Leon Trotsky; Karl Kaustsky; Rosa de
Luxemburgo; Antônio Gramsci; Togliatti; Mao Tsé Tung; entre outros de peso,
inclusive brasileiros (estes atuavam no Brasil, é claro). Devido as ações dos marxistas e das organizações de
esquerda, entre estas a Segunda
Internacional Operária, que o Socialismo
Científico, ou o Marxismo tornou-se efetivamente uma corrente ideológica de oposição ao
Capitalismo e seus modelos de acumulação e de exploração. Isto é, a
partir do século XX, ser marxista
significava ser adepto às ideias de
Karl Marx, ser anticapitalista e ser a favor da luta operária em direção a
tomada do poder do Estado pela revolução.
O
Império Russo: o país antes da Revolução
Antes da revolução
operária-campesina na Rússia, esta era um enorme Império. Há mais de 500 anos
que a Rússia era governada por Czares (Imperadores), ou Czarinas (Imperatrizes)
os quais possibilitaram, por meio de seus respectivos projetos, construírem um
Império de dimensões territoriais gigantescas, com um Estado único (central) e
com uma sociedade baseada nas relações de servidão, tendo uma classe aristocrática como governante, mandatária e com privilégios
políticos, econômicos e sociais assegurados pelo poder do Estado
Imperial. Pedro-III (também conhecido por Pedro, o Grande); Catarina-II (também
conhecida por Catarina, a Grande); Paulo-I; Alexandre-I; Alexandre-II,
Alexandre-III; Nicolau-II (este último era Imperador quando da Revolução em
1917), são apenas alguns dos Imperadores russos que fizeram da Rússia um grande
Império. Palácios luxuosos – como o Palácio de Inverno na cidade São
Petersburgo – palacetes; ambientes requintados; objetos de luxo; privilégios
políticos e sociais em geral; e demais mordomias, criavam um enorme abismo
econômico, político e social entre as elites aristocráticas (realeza e nobreza)
e população em geral – formada por maioria de camponeses e população
assalariada urbana. A servidão
era uma das bases econômicas e sociais porque refletia as relações sociais de produção predominantes
e estas eram as obrigações da
massa campesina para com os nobres latifundiários. Economicamente a Rússia era
um país agrário - isto é, de
produção principal a agricultura – e latifundiário. Nas cidades, já no século
XIX, haviam pequenas indústrias, mas de produção manufatureiro artesanal e não
eram predominantes. A Rússia era muito atrasada em termos econômicos se
comparada a outros países ocidentais industrializados, capitalistas.
O atraso econômico colocava a
Rússia numa condição de país sem perspectivas de crescimento mesmo quando
Alexandre-II iniciou reformas econômicas objetivando a modernização da
sociedade russa por meio da industrialização, projeto este que sofria com
resistências por parte de grupos aristocráticos dominantes que não desejavam
perder seus privilégios. Já Alexandre-III estagnou com o projeto modernizador
porque era um aliado das tradições e, logo, dos grupos d eelite contrários à
modernização. O único projeto que na Rússia era bem sucedido, era o projeto expansionista. Os Czares direcionavam
muito bem a expansão externa conquistando territórios o que fez do país um
imenso Império. Na segunda metade do século XIX e início do século XX a Rússia
era um país imperialista porque
disputava territórios com o Império Austro-Húngaro – no caso, a região dos
Balcãs – e com o Japão – em 1905 houve a guerra russo-japonesa pela disputa
pelo norte da China, a regão de Xantung na Manchúria. Convém lembrar ainda que
a Rússia participou da Primeira Guerra Mundial muito embora tenha saído
derrotada em 1917 e em 1918 o novo governo Bolchevique assinou junto a Alemanha
o Tratado de Brest-Litovsk – região
da atual Polônia fundada no século XI que foi anexada à Rússia em 1975.
A
Revolução Bolchevique
Tendo em vista os graves
problemas econômicos, políticos e sociais que se aprofundavam na sociedade
russa e mais a sua desastrosa participação na Primeira Guerra Mundial, a
população foi se revoltando contra a tirania e os descasos do Imperador
Nicolau-II e da elite aristocrática. Apesar de ignorar os problemas que
atingiam a população russa, Nicolau-II deu importância a projetos
modernizadores da sociedade estabelecendo contatos com países capitalistas
ocidentais o que fazia parte do grande projeto externo do Estado russo: a expansão. Portanto, Nicolau-II
procurou facilitar a entrada de
capitais estrangeiros para promover a industrialização do país, principalmente
somas de capitais da França, da Alemanha - as relações econômicas e financeiras
com esta se estabeleceram antes da rivalidade posterior - da Inglaterra e da
Bélgica, esse processo de industrialização ocorreu posteriormente à da maioria
dos países da Europa Ocidental. O desenvolvimento capitalista russo foi ativado por medidas como o início da exportação do petróleo, a
implantação de estradas de ferro e da indústria siderúrgica. Os
investimentos industriais foram concentrados em centros urbanos populosos, como
Moscovo, São Petersburgo, Odessa e Kiev. Nessas cidades, formou-se um operariado de aproximadamente 3
milhões de pessoas, que recebiam
salários miseráveis e eram submetidas a jornadas de 12 a 16 horas diárias de
trabalho, não recebiam alimentação e trabalhavam em locais imundos, sujeitos a
doenças. Nessa dramática situação de exploração do operariado, as ideias socialistas (Socialismo Científico
ou Marxismo) encontraram um campo fértil para o seu florescimento.
O
Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR): com o desenvolvimento da industrialização e o maior relacionamento com a
Europa Ocidental, a Rússia recebeu do
exterior novas correntes políticas que se chocavam com o antiquado absolutismo do governo russo. Entre elas
destacou-se a corrente inspirada no marxismo,
que deu origem ao Partido Operário
Social-Democrata Russo. O POSDR
foi violentamente combatido pela Ochrana
– Polícia de Estado do governo. Embora tenha sido desarticulado dentro da
Rússia em 1898, voltou a organizar-se no exterior, tendo como líderes
principais Gueorgui Plekhanov, Vladimir Ilyich Ulyanov - conhecido como Lênin - e Lev Bronstein - conhecido
como Trotski.
A
divisão do Partido: mencheviques e bolcheviques: em 1903, divergências quanto à forma de ação revolucionária (questão conceitual) levaram os membros do
partido POSDR a se dividir em
dois grupos básicos:
·
os mencheviques: liderados por Martov, defendiam que os trabalhadores
podiam conquistar o poder participando normalmente das atividades políticas.
Acreditavam, ainda, que era preciso esperar o pleno desenvolvimento capitalista
da Rússia e o desabrochar das suas contradições, para se dar início efetivo à
ação revolucionária. Como esses membros tiveram menos votos em relação ao outro
grupo, ficaram conhecidos como mencheviques,
que significa minoria – socialistas
brancos.
·
os bolcheviques: liderados por Lênin, defendiam que os trabalhadores
somente chegariam ao poder pela luta
revolucionária. Pregavam a formação de uma ditadura do proletariado – o Socialismo segundo a tradição marxista ortodoxa, na qual também
estivesse representada a classe camponesa. Como esse grupo obteve mais adeptos,
ficou conhecido como bolchevique,
que significa maioria – socialistas
vermelhos. Trotsky, que inicialmente não se filiou a nenhuma das
facções, aderiu aos bolcheviques mais tarde.
A Revolta de 1905: o ensaio para a revolução
Em 1904, a Rússia, que desejava expandir-se para o oriente, entrou em
guerra contra o Japão devido à posse da Manchúria,mas foi derrotada. A situação
socio-econômica do país agravou-se e o regime político do czar Nicolau II foi
abalado por uma série de revoltas,
em 1905, envolvendo operários,
camponeses, marinheiros - como a revolta no navio encouraçado Potemkin - e soldados do exército. Greves
e protestos contra o regime
absolutista do czar explodiram em diversas regiões da Rússia. Em São
Petersburgo, foi criado um sovietes
- conselhos operários constituídos
dentro das fábricas e surgidos espontaneamente - para auxiliar na
coordenação das várias greves e servir de palco de debate político. Diante do
crescente clima de revolta, o Czar Nicolau II prometeu realizar, pelo Manifesto de Outubro, grandes
reformas no país: estabeleceria um governo constitucional, dando fim ao
absolutismo, e convocaria eleições gerais para o parlamento - a Duma - que elaboraria uma constituição para a Rússia. Os partidos de orientação liberal burguesa, como
o Partido Constitucional Democrata ou Partido dos Cadetes, deram-se por
satisfeitos com as promessas do Czar, deixando os operários excluídos. Terminada a guerra contra o Japão, o governo
russo mobilizou as suas tropas especiais - cossacos - para reprimir os principais focos de revolta dos
trabalhadores. Diversos líderes revolucionários foram presos, desmantelando-se
o Soviete de São Petersburgo.
Assumindo o comando da situação, Nicolau II deixou de lado as promessas
liberais que tinha feito no Manifesto de Outubro. Apenas a Duma continuou funcionando, mas com
poderes limitados e sob intimidação policial das forças do governo. A Revolução Russa de 1905, mais
conhecida como "Domingo
Sangrento", tinha sido derrotada por Nicolau II, mas serviu de
lição para que os líderes revolucionários avaliassem seus erros e suas
fraquezas e aprendessem a superá-los. Foi, segundo Lenin, um ensaio geral para a Revolução Russa de 1917.
Lenine (em primeiro plano) |
A Revolução de
Fevereiro e Outubro de 1917
O ano de 1917 foi definitivo para a Revolução Bolchevique. Foi neste ano que o processo revolucionário se radicalizou, porque a luta armada, envolvendo de um lado operários, soldados, marinheiros, desempregados – estes formando os imenso grupo dos sovietes, liderados pelos bolcheviques e apoiados pelos mencheviques, agindo nos centros urbanos e mais os camponeses – estes organizados em ligas campesinas que atuavam nas áreas rurais – e do outro, forças militares que apoiavam a Duma, foi travada ocorrendo a vitória dos bolcheviques os quais assumiram o poder político do Estado russo neste ano de 1917.
Os dois momentos da revolução no ano de 1917 podem ser assim resumidos:
·
A Revolução de Fevereiro de 1917 (março de 1917, pelo calendário
ocidental), que derrubou a autocracia do Czar Nicolau II da Rússia, o último
Czar a governar, e procurou estabelecer em seu lugar uma república de cunho
liberal. Isto é, neste primeiro momento a vitória revolucionária era da Duma tendo a burguesia russa assumido
o controle político do estado russo.
·
A Revolução de Outubro (novembro de 1917, pelo calendário
ocidental), na qual o Partido Bolchevique, liderado por Vladimir Lênin,
derrubou o governo provisório da Duma
e impôs o governo Socialista.
Foi a partir deste novo modelo de Estado – o Estado Socialista – que os bolcheviques iniciaram a construção do Socialismo real já que prevaleceu a ditadura, mas não do proletariado como
previra Marx em suas teorias, e sim a ditadura do Partido Único – o Partido Comunista, que não admitia oposições políticas.
A década que se seguiu o ano
da revolução de 1917, a década de 1920, foi de construção do governo
socialista.
No início da década de 1920, o pós-revolução conheceu as seguintes etapas:
-Comunismo de Guerra – 1917-1921;
-N.E.P. – Nova Política Econômica – 1921-1924;
-Era Stalinista (ou Stalinismo de Estado) – 1925-1954.
In http://www.algosobre.com.br/historia/revolucao-bolchevique-ou-revolucao-russa-1917.html
(texto original/Português do Brasil)No início da década de 1920, o pós-revolução conheceu as seguintes etapas:
-Comunismo de Guerra – 1917-1921;
-N.E.P. – Nova Política Econômica – 1921-1924;
-Era Stalinista (ou Stalinismo de Estado) – 1925-1954.
Para saber mais, consulta:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Russa_de_1917
http://www.bazardaspalavras.com.br/orange/kazan/revolucao.htm
http://historiamarxismo.blogspot.pt/2011/09/marxismo-objetivos-e-ideias.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Comunismo
http://www.infopedia.pt/$marxismo
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