segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Eleições 1958 - uma esperança de democracia

«Debaixo da superfície lisa corriam águas vivas» - Aquilino Ribeiro, entrevista ao Diário de Lisboa, 2 de Junho de 1958.




 
Portugal é, na década de 50, um país dominado por profundas contradições internas. Sob a aparente calma da superfície, fervilham tensões sociais que irão revelar-se na Primavera-Verão de 1958. A campanha eleitoral para as Eleições Presidenciais marca o início da segunda crise histórica do Estado Novo. A par da candidatura de Américo Tomás apoiado pela União Nacional, as candidaturas oposicionistas de Humberto Delgado, candidato independente, e Arlindo Vicente, candidato pela Oposição Democrática. Em 1958, o povo sai à rua, perde o medo, e enfrenta numa explosão nunca vista, o regime e a figura até então incontestada de António Oliveira Salazar. As manifestações populares no Porto e em Lisboa de apoio ao General Humberto Delgado fazem despoletar uma intensa acção repressiva por parte das forças governamentais. Sucedem-se as prisões, centenas de feridos e fala-se em mortos. A adesão popular em torno da figura do General culminará na desistência de Arlindo Vicente a favor do candidato independente, através do “Pacto de Cacilhas”. A 8 de Junho, dia de todas as esperanças é também o dia do desânimo perante a fraude eleitoral praticada. Nos dias subsequentes e até Julho, Portugal é varrido por uma onda de protestos a nível nacional. Pela primeira vez na história do Estado Novo dão-se greves de carácter político, boicotes, paralisações de curta duração, de forma a demonstrar o sentimento de revolta perante a manipulação dos resultados eleitorais. O “furacão Delgado” abalou de modo inquestionável os alicerces do Regime.
Uma esperança de democracia não cumprida, e que ficaria por mais alguns anos adiada.
 
«O general Humberto Delgado, é claro, perdeu por uma larga margem a favor do candidato escolhido por António de Oliveira Salazar, o ditador e primeiro-ministro.
O nome do vencedor é, por acaso, o contra-almirante Américo Tomás, mas isso não tem qualquer importância. Ele não terá qualquer poder e o Dr. Salazar podia da mesma forma ter escolhido o polícia de trânsito mais à mão.»

Jornal New York Times, 10 de Junho de 1958

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